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sobre drinques autorais

Texto de Bruna Abeijon:

Como alguém que trabalha diretamente e basicamente com drinques autorais, te digo que, mesmo que existisse o registro de propriedade intelectual pra receitas, na prática não ia fazer diferença nenhuma.

Eu, Bruna, não acredito na propriedade intelectual da criação de um drinque, acho que nossas criações são parte de uma evolução da coquetelaria regional (seja regional definido por: do sul, do brasil ou do ocidente, etc) e concordo com o Rodrigo do Mocotó, acho um desserviço se agarrar a unhas e dentes a uma criação e não permitir a sua evolução, ou mesmo replicação.

Mas além dessa questão mais profunda e ideológica, acho que na prática não funcionaria pelo simples fato de que não tem como controlar se estão fazendo o seu drinque por aí, teria que abrir um processo contra cada bar, contratar advogado e talvez não desse em nada, ou talvez cara fosse condenado a pagar uma multa, mas o tempo que se gastou no processo é mais caro que essa multa, fora que não tem como a gente saber tudo que tá rolando em todos cardápios por aí, resumindo, a fiscalização seria MUITO dificil, tanto pela velocidade em que os cardápios mudam, quanto pelo quão numerosos eles são.

Na minha opinião, a melhor forma de ter um drinque reconhecido como seu é publicando, compartilhando a info mesmo, porque você vai ser reconhecido pelos que viram essa info como o autor, pode ser em uma revista (a Clube do barman publica receitas de bartenders de todo Brasil), fazendo um site, ou nos grupos de estudo mesmo, até porque vai ter a data dessa publicação ao lado do seu nome, e ainda é de graça

Dry Martini

O que amo no Dry Martini, talvez tanto quanto seu sabor e efeito, é o processo. Por isso muitas vezes critiquei, embora considere incorreto o apego grosseiro aos métodos ou gostos que meu indivíduo (ou qualquer outro) aprecie. Nem tudo que se ama quer ou precisa ser defendido. Acho que a melhor dica que recebi a esse respeito veio de de uma amiga, bartender no Mao Sut Thailand Bar e responsável pela criação de drinques autorais de bares como o próprio Mao Sut e o Quentin’s:

“Quando te pedirem Dry Martini, pergunte como a pessoa prefere.” Costumo eu mesmo perguntar como é feito quando peço num bar.

No El Basco Loco disse como gosto de preparar e adorei o sorriso do bartender: “Então tu gosta de Dry Martini *mesmo*. Ótimo!”. Por sinal, ficou ótimo.

E já que estou divagando a respeito de um de meus drinques preferidos, segue minha citação favorita sobre ele, do colega em letras Ernest Hemingway:

“Quando perdido numa ilha, faça um ‘tini. Em cinco minutos aparece alguém pra reclamar de alguma imperfeição no preparo.”

mais sobre o Quentin’s

Olha que legal! O Destemperados fez uma matéria bem bacana e sucinta sobre o Quentin’s e, claro, nela aparecem os drinques criados por minha bartender preferida para a casa.

“A carta de drinks traz nomes que lembram os filmes do Tarantino. Nossa vibe era de drinks. Eu pedi o The D is Silent (lembrando o filme Django). Olha a combinação: Red Label, Apricot, suco de limão siciliano e creme de chopp Pilsen. Uma delícia! Titty Twister foi a escolha do Marco. O drink tem o nome do bar do filme Um Drink no Inferno. Tequila prata, suco de pessego, açúcar, pimenta, páprica picante e Grenadine. A Ju foi uma lady e escolheu o Au Revoir Shosanna (Bastardos Inglórios) e fez questão de me contar a cena do filme em que essa frase foi dita. Drink docinho. Não faz muito meu estilo, mas a Ju aprovou. Tinha morango, uva rubi, suco de limão suco de cranberry e espumante demi -sec.”

A matéria completa você pode ler clicando aqui

foto do Au Revoir Shoshanna, um dos drinks do Quentin's Bar

coquetel Au Revoir Shoshanna – foto por Destemperados

sobre as criações de minha bartender preferida

E o motivo pelo qual estava tão ansioso pra conhecer o Quentin’s [Quentin’s Bar no Facebook] está por trás dessa citação em uma matéria no caderno de entretenimento da Zero Hora: “A famosa frase de Bastardos Inglórios é um dos drinques de maior sucesso da casa: “au revoir Shoshanna” leva morango, uva rubi, suco de limão, suco de cranberry e espumante demi-sec. A bebida de cor vermelha é adocicada e levemente cítrica.”

Acho que a maioria das pessoas aqui não sabe, mas o poema título do livro que pretendo publicar com o apoio do meu financiamento coletivo no catarse, Tempestade e Calmaria, é um dos dedicados à bartender cuja criação é destacada ali. Minha amiga, meu ídolo, minha referência coqueteleira e, confesso, minha timoneira preferida, Six Anchor.

Entre um drink e outro (e quando digo um quero dizer 50 e quando digo outro quero dizer os próximos 150) que prepara noite após noite no Mao Sut – Thailand Bar [Mao Sut no Facebook], ela achou tempo pra montar a carta de drinques e criar alguns coquetéis autorais para o bar que homenageia a carreira de Quentin Tarantino. São eles: The D Is Silent (whiskey, apricot, suco de limão siciliano, creme de lager pilsen), Butterfly (Gin, Malibu, licor de pêssego, suco de laranja, Grenadine), Titty Twister (tequila, suco de pêssego, páprica, pimenta dedo-de-moça, Grenadine), Five Dollars (conhaque, sorvete de banana caramelada), Dish Better Served Cold (saquê e frutas amarelas da estação; pra agosto/setembro, lima, laranja-pêra, abacaxi, bergamota), Let’s Fuck (Bailey’s, creme de cacau, licor de café, canela e açúcar) e, finalmente, o coquetel citado na matéria da Zero Hora, Au Revoir Shoshana (espumante, suco de limão, suco de cranberry e purê de morango e uva rubi).

alguns drinks

Na foto, de Elvis Pinto, alguns drinques criados pela bartender.

E já que estamos falando em autorais, seria injusto não mencionar os que a minha musa náutica e ídolo bartender criou para o Mao Sut: Royal Mojito (rum, licor de cassis, espumante, hortelã, limão e blueberry), Lumpinee (cachaça, orgeat e creme de cassis) e Bangkok (whiskey, apricot brandy, suco de laranja, pimenta e grenadine).

O Mao Sut fica na Ramiro Barcelos, 1374 e o Quentin’s, na Lima e Silva, 918. Ambos em Porto Alegre, RS.

Baita Bier Cacau Stout

Finalmente provei essa maravilha, da chopeira, e me apaixonei. O aroma de cacau se mistura ao gosto na espuma logo ao primeiro contato, e daí só melhora: maltes torrados lembrando café, cerveja amarga… Enfim, tomar café (quase) perdeu a graça perto dessa Stout.

garrafa e copo baita bier stout

Cerveja artesanal inspiradora com receita no aroma de lúpulo.

O aroma do lúpulo fica entre moderado e forte, resultante de dry-hopping (adições tardias de lúpulo);
Caráter cítrico de lúpulo (muitas vezes lembrando maracujá);
Amargor de lúpulo de moderado a alto com um final médio a seco. O sabor e o amargor do lúpulo persistem até o final;
Maltes especiais tipo tostado ou caramelo;
Sabor maltado, amargo e cítrico;
Possui coloração de dourado pálido a âmbar profundo;
Colarinho branco com boa retenção. Geralmente bem límpida, mas pode conter resíduos de fermento ou lúpulo no fundo da garrafa.
Validade: 4 meses a partir da data de fabricação;
IBUs (Amargor): 40 | SRM (Cor): 9 | ABV (Álcool): 5,6%

Fonte: Baita Bier

o mapa do mapa

Mapa da cachaça: uma paixão que vira um negócio que vira um ponto de referência para demais entusiastas dessa mesma paixão.

logo

Nesta matéria de Renata Reps para o Projeto Draft, a história do Mapa da Cachaça através de uma série de dados valiosíssimos e depoimentos do próprio criador do Mapa, Felipe Jannuzzi.

mojito, seu chato

Acredito que Mojito se popularizado da mesma forma que o Daiquiri: era importante pros E.U.A. que as pessoas consumissem rum, já que, por razões econômicas que encareciam a até então preferencial vodka, foram feitos acordos econômicos com Cuba e começaram a importar rum. Criou-se então a idéia de que “CUBA IS COOL! DRINK MORE RUM! YAY MOJITO!”.

Mas isso faz tempo e ces podem parar de fingir que gostam desse coquetel insosso, chato de fazer e mais chato ainda de tomar.

E se o Hemingway gostava mesmo, grandes coisa. Se é pra seguir os passos dele, coloquem uma espingarda na boca e puxem o gatilho com o pé.

grey goose

Hoje tive a oportunidade de conhecer um pouco sobre a Grey Goose, vodca produzida na França, além de ter uma tarde ótima em um ambiente mais do que aconchegante cedido ao treinamento pelo 72 NY Pub1. Pra não ocupar muito o tempo das estimadas e poucas pessoas que lêem esse blog, e também porque to louco pra criar algo em cima de Bloody Mary ou Vegan Alexander usando o brinde2 que a Bacardi* ofereceu aos convidados, serei breve a respeito da vodca e seu processo de criação.

* pra quem não sabe, eles compraram a Grey Goose e administram a marca, embora o processo de produção seja o mesmo de sempre.

Esse processo é acompanhado de perto pelo seu criador, François Thibauld, desde o seu início, e ele é justamente o que torna a combinação de sabor, textura e aroma no resultado final única à Grey Goose. O trigo<sup3 que será granulado é cultivado em Picardy, região especializada no cultivo dessa gramínea, e Thibauld acompanha desde o cultivo à fermentação de destilação que produzirá o álcool utilizado na vodca. A mistura (ou corte) com água é feita em Cognac, mais especificamente em Gensac, e essa água é retirada de um poço exclusivo da Grey Goose. A água é retirada de aproximados 150 metros de profundidade, onde tem sido filtrada em calvário ao longo de séculos.

Por enquanto, há apenas três Grey Goose saborizadas a venda no Brasil: La Poire (pêra), L’Organge (laranja) e Le Citron (limão). As frutas utilizadas nessas também são cuidadosamente escolhidas. As laranjas são selecionadas por sua qualidade em três origens: Brasil, EUA (Flórida) e Nova Guiné. O limão vem de Monton, novamente na França, região onde conhecida pelo crescimento dessa fruta e a preferida por chefs ao redor do mundo. A pera Miguel d’Anjou é cultivada na França e, das três vodcas saborizadas, essa foi a que mais gostei.

Durante a degustação4, provamos ainda o Licor St-Germain, produzido com licor de sabugueiro. Esse, sim, outra maravilha que merece um post só pra si, tão louco eu adquira um pra continuar degustando em casa. Mas já adianto que saí de lá com saudade do gosto dele.

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1. Parte do salão do 72 NY Restaurante, próximo ao 72 NY Pub

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2. Grey Goose Vodka e algo que preparei com ela, simple syrup, suco de tomate e limonada suíça

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3. Grão de trigo e farinha proveniente. Foto: Priscila Mallmann.

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4. À mesa, Grey Goose Vodka e Grey Goose La Poire, L’Orange e Le Citron

negroni week

A Semana Negroni acontece ao mesmo tempo em diferentes bares mundo afora. Como funciona? Cada bar participante escolhe uma insituição de caridade e esta receberá, por cada Negroni ou variação de Negroni servido no bar, uma parte do lucro é doada àquela instituição.

Infelizmente, não achei nenhum bar participante no Brasil, mas divulgo aqui a Negroni Week como um incentivo a ações semelhantes em nosso país. Não é como se não precisássemos, né? E a coquetelaria tem crescido cada vez mais por essas terras, então acho que seria bem proveitoso.

Um brinde às boas ações!

https://vimeo.com/88663240

(divagando)

Uísque só pode ser usado em drinque montado, acho. Porque só existem duas formas de tomar um uísque: puro, ou com numa combinação tão perfeita que não exige ser mexido ou batido; você derruba sobre ele a adição e está pronto o coquetel, como num namoro em que nenhuma das partes jamais fez pedido e, quando vêem, estão há cinqüenta anos juntos.