por Douglas Adams
Tradução: Coiote Flores
Eu amo uísque como um todo. Adoro o jeito que ele aparenta na garrafa, aquela rica coloração dourada. Adoro os rótulos arranjados na prateleira – os kilts e espadas e ovelhas levemente desfocadas. Adoro a sensação de que é um drinque que – diferente, por exemplo, da vodca de Warrington – é rico na cultura e história do lugar em que é destilado. Eu ao particularmente os aromas peaty, smoky dos maltes puros. De fato, a única coisa que não gosto a respeito de uísque é que se eu tomo o mais singelo gole da coisa ele me envia uma dor afiada de trás do meu globo ocular até a ponta do meu cotovelo direito, e eu começo a caminhar de um jeito muito peculiar, esbarrando em pessoas e rosnando para a mobília. Aprendi, portanto, a desviar minha atenção para outras bebidas.
Margaritas, sou muito afeiçoado por, mas elas me fazem comprar coisas muito idiotas. Quando quer que eu tome algumas margaritas, eu sempre acordo de manhã com uma sensação de pavor quanto ao que vou encontrar no andar de baixo. O pior foram um lápis de um metro e oitenta e uma borracha de meio metro que eu encomendara de Nova Iorque como resultado de um trago imprudente. O confuso foi que eles chegaram várias semanas depois que eu o fiz, então eu os encontrei lá embaixo numa manhã depois de ter tomado apenas um copo de Chianti com minha pizza da noite.
Portanto eu agora bebo martinis com Stolichnaya se vou a Nova Iorque porque eles me deixam muito esperto e sofisticado e novaiorquês, mas, mais importante, eles me deixam incapaz de fazer qualquer coisa estúpida, ou qualquer coisa de todo, embora eu ocasionalmente converse eloquentemente sobre cromodinâmica quântica e criação de porcos quando sob sua influência.
Eu gosto de Bloody Mary, mas só os tomei em aeroportos. Não tenho uma explicação para isso. Nunca me ocorre tomar um Bloody Mary no curso normal das coisas, mas me coloque em uma sala de espera de aeroporto e corro para o Stoli com suco de tomate como um rato corre de um barco afundando, e chego algumas horas depois a meu destino pulsando com o jet lag.
Em casa tendo a tomar o que quer que esteja pela geladeira, o que costuma ser muito pouco. Minha geladeira tem uma função peculiar: você coloca uma garrafa de bom champagne nela e, quando vem procurá-la, encontra uma garrafa de um vinho branco insalubre em seu lugar. Ainda não deduzi como isso acontece, mas normalmente me consolo com um copo do drinque mais entediante do mundo, o único que posso tomar sem efeitos nocivos quaisquer: gin e tônica.
The Independent on Sunday
Dezembro de 1990