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Dry Martini

O que amo no Dry Martini, talvez tanto quanto seu sabor e efeito, é o processo. Por isso muitas vezes critiquei, embora considere incorreto o apego grosseiro aos métodos ou gostos que meu indivíduo (ou qualquer outro) aprecie. Nem tudo que se ama quer ou precisa ser defendido. Acho que a melhor dica que recebi a esse respeito veio de de uma amiga, bartender no Mao Sut Thailand Bar e responsável pela criação de drinques autorais de bares como o próprio Mao Sut e o Quentin’s:

“Quando te pedirem Dry Martini, pergunte como a pessoa prefere.” Costumo eu mesmo perguntar como é feito quando peço num bar.

No El Basco Loco disse como gosto de preparar e adorei o sorriso do bartender: “Então tu gosta de Dry Martini *mesmo*. Ótimo!”. Por sinal, ficou ótimo.

E já que estou divagando a respeito de um de meus drinques preferidos, segue minha citação favorita sobre ele, do colega em letras Ernest Hemingway:

“Quando perdido numa ilha, faça um ‘tini. Em cinco minutos aparece alguém pra reclamar de alguma imperfeição no preparo.”

Minhas Bebidas Favoritas

por Douglas Adams
Tradução: Coiote Flores

    Eu amo uísque como um todo. Adoro o jeito que ele aparenta na garrafa, aquela rica coloração dourada. Adoro os rótulos arranjados na prateleira – os kilts e espadas e ovelhas levemente desfocadas. Adoro a sensação de que é um drinque que – diferente, por exemplo, da vodca de Warrington – é rico na cultura e história do lugar em que é destilado. Eu ao particularmente os aromas peaty, smoky dos maltes puros. De fato, a única coisa que não gosto a respeito de uísque é que se eu tomo o mais singelo gole da coisa ele me envia uma dor afiada de trás do meu globo ocular até a ponta do meu cotovelo direito, e eu começo a caminhar de um jeito muito peculiar, esbarrando em pessoas e rosnando para a mobília. Aprendi, portanto, a desviar minha atenção para outras bebidas.
    Margaritas, sou muito afeiçoado por, mas elas me fazem comprar coisas muito idiotas. Quando quer que eu tome algumas margaritas, eu sempre acordo de manhã com uma sensação de pavor quanto ao que vou encontrar no andar de baixo. O pior foram um lápis de um metro e oitenta e uma borracha de meio metro que eu encomendara de Nova Iorque como resultado de um trago imprudente. O confuso foi que eles chegaram várias semanas depois que eu o fiz, então eu os encontrei lá embaixo numa manhã depois de ter tomado apenas um copo de Chianti com minha pizza da noite.
    Portanto eu agora bebo martinis com Stolichnaya se vou a Nova Iorque porque eles me deixam muito esperto e sofisticado e novaiorquês, mas, mais importante, eles me deixam incapaz de fazer qualquer coisa estúpida, ou qualquer coisa de todo, embora eu ocasionalmente converse eloquentemente sobre cromodinâmica quântica e criação de porcos quando sob sua influência.
    Eu gosto de Bloody Mary, mas só os tomei em aeroportos. Não tenho uma explicação para isso. Nunca me ocorre tomar um Bloody Mary no curso normal das coisas, mas me coloque em uma sala de espera de aeroporto e corro para o Stoli com suco de tomate como um rato corre de um barco afundando, e chego algumas horas depois a meu destino pulsando com o jet lag.
    Em casa tendo a tomar o que quer que esteja pela geladeira, o que costuma ser muito pouco. Minha geladeira tem uma função peculiar: você coloca uma garrafa de bom champagne nela e, quando vem procurá-la, encontra uma garrafa de um vinho branco insalubre em seu lugar. Ainda não deduzi como isso acontece, mas normalmente me consolo com um copo do drinque mais entediante do mundo, o único que posso tomar sem efeitos nocivos quaisquer: gin e tônica.

The Independent on Sunday
Dezembro de 1990

História (ii): por que coquetéis?

“Quando o aumento do comércio entre nações apresentou sensível elevação no final do século 18, um fato é relevante e elucidativo: a alquimia entre bebidas internacionais a serviço da hospitalidade. Os vermutes da região do Piemonte, Itália, ajudavam a suavizar os rudes gins fabricados pelos ingleses naquele momento. Isso ajudou substancialmente o comércio de bebidas e outros produtos entre ambos, promovendo inexoravelmente o intercâmbio cultural entre esses países, conhecidos na época pelo fundamentalismo de costumes e cultura.
(…)
O coquetel traz em sua essência a criatividade com que o barman misturou as bebidas populares e consumidas com eloqüência num determinado local junto a outros ingredientes. A finalidade sempre acaba sendo a de compor algo representativo para aquele espaço ou comunidade. É assim com o clássico Manhatan, coquetel à base de uísque de centeio norte-americano (o rye, um uísque fabricado à base de centeio pela comunidade irlandesa de Nova York) misturado com o vermute tinto de origem italiana. A fusão de ingredientes que representam a origem dos dois principais povos (italianos e irlandeses) que fizeram da ilha de Manhatan uma cidade cosmopolita é a pura tradução da identidade visceral dessa cultura construída pela fusão de outras.”

Rick Anson, mixologista